Marcelo Fromer / Sérgio Britto
Teus olhos querem me levar
Eu só quero que você me leve
Eu ouço as estrelas conspirando contra mim
Eu sei que as plantas me vigiam do jardim
as luzes querem me ofuscar
eu só quero que essa luz me cegue
nem cinco minutos guardados dentro de cada cigarro
não há pára-brisa pra limpar, nem vidros no teu carro
o meu corpo não quer descansar
não há guarda chuva contra o amor
o teu perfume quer me envenenar
minha mente gita como um ventilador
a chama do teu isqueiro quer incendiar a cidade
teus pés vão girando igual aos da porta estandarte
tanto faz qual é a cor da sua blusa
tanto faz a roupa que você usa
faça calor ou faça frio
é sempre carnaval no Brasil
Eu estou no meio da rua
Você está no meio de tudo
O teu relógio quer acelerar,
quer apressar os meus passos
não há pára-raio contra o que vem de baixo
tanto faz qual é a cor da sua blusa
tanto faz a roupa que você usa
faça calor ou faça frio
é sempre carnaval no Brasil
A Carlos Drummond de Andrade
João Cabral de Melo Neto
Não há guarda-chuva
contra o poema
subindo de regiões onde tudo é surpresa
como uma flor mesmo num canteiro.
Não há guarda-chuva
contra o amor
que mastiga e cospe como qualquer boca,
que tritura como um desastre.
Não há guarda-chuva
contra o tédio:
o tédio das quatro paredes, das quatro
estações, dos quatro pontos cardeais.
Não há guarda-chuva
contra o mundo
cada dia devorado nos jornais
sob as espécies de papel e tinta.
Não há guarda-chuva
contra o tempo,
rio fluindo sob a casa, correnteza
carregando os dias, os cabelos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário