Sobre o blog

Vida de ponto-e-vírgula: o modo de vida assim nomeado define-se negativamente: não é ponto, mas também não é vírgula. A vírgula alterna as coisas com muita rapidez. O ponto final é sisudo, sempre encerra períodos! Bem melhor ser ponto-e-vírgula: uma pausa que não é definitiva, e uma retomada que sempre pode ser outra coisa...



quarta-feira, 1 de junho de 2011

Chegando ao Ponto

No próximo dia 4 de junho, a partir das 18 horas, o ILTC – Instituto de Lógica, Filosofia e Teoria da Ciência –, a Secretaria de Estado de Cultura do Rio de Janeiro e a Secretaria Municipal de Educação inauguram, na Casa de Cultura de Euclides da Cunha (Rua Maria Zulmira Torres, s/nº), em Cantagalo, o Ponto de Cultura "Os Serões do Seu Euclides". O Ponto desenvolve atividades, desde a sua aprovação, em novembro de 2010. De lá para cá, desenvolveu ações, tais como o Ciclo de Debates com Educadores – Euclides na Sala de Aula, a inauguração da Cordelteca Madrinha Mena, e a Campanha de arrecadação de livros  infanto-juvenis para trabalho educativo com crianças e jovens desabrigados e a recomposição de acervos de escolas de Nova Friburgo, destruídos pelas chuvas de janeiro. Em maio, foi concluído o processo de aquisição de mobiliário, equipamentos e material de consumo, conforme aprovado no edital da Secretaria de Cultura do Estado, permitindo, agora, o seu pleno funcionamento.


Da programação do ato inaugural constam a primeira sessão de cinema do “Cineclube da Cunha”, com a exibição do documentário "O Mão de Luva", de Sílvio Coutinho, que trata do lendário bandoleiro que teria se instalado na região e que seria responsável por atrair a atenção dos portugueses para a colonização do local, dando origem a Cantagalo. Esse documentário, produzido com o apoio da Prefeitura de Cantagalo, foi exibido no início deste ano na TV Brasil. Logo após a exibição, haverá um debate sobre o tema do filme, com convidados. A noite será encerrada com o sarau "Os Serões e os Sertões de Euclides da Cunha", organizado pelo Curso de Letras da Universidade Estácio de Sá.

De acordo com os coordenadores do projeto "100 Anos sem Euclides", os professores Anabelle Loivos, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), e Luiz Fernando Conde Sangenis, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), o novo Ponto de Cultura pretende resgatar a memória euclidiana e ressaltar o patrimônio material e imaterial que a obra do escritor faz circular, em manifestações artístico-culturais e ações interdisciplinares. “Esse Ponto de Cultura dará uma contribuição importante ao fomento cultural de Cantagalo e da região ao oferecer ações culturais de qualidade a diversos públicos”, destaca Anabelle Loivos.

Segundo Luiz Fernando Sangenis, o Ponto de Cultura também está comprometido com o tratamento da história e da memória de Cantagalo. Todas as terças-feiras, serão desenvolvidas oficinas de arte com turmas de alunos do 1.º ao 9.º ano das escolas municipais, estaduais e particulares de Cantagalo. Além dos temas euclidianos, as oficinas proporão às crianças temas referentes à identidade de Cantagalo. A maior parte das atividades será sediada na Casa de Euclides da Cunha, administrada pela Fundação de Artes do Estado do Rio de Janeiro (Funarj), órgão da Secretaria Estadual de Cultura, em Cantagalo.

Rick Azevedo, gestor cultural do Ponto, destaca que a ideia é instituir atividades como: cursos, oficinas, mesas-redondas, eventos culturais, saraus lítero-musicais, contação de histórias, cineclube, manutenção de espaço virtual na internet e outras ferramentas de divulgação e acesso ao patrimônio cultural local, de modo que a comunidade seja cada vez mais atraída à Casa de Euclides da Cunha, um dos poucos equipamentos culturais da cidade. O desafio do projeto, conforme explica Anabelle Loivos, está na proposta de formar novas gerações com um sentimento de pertencimento à comunidade, através da história e da memória de outros cidadãos que marcaram seu tempo, tendo em Euclides da Cunha sua figura emblemática.

domingo, 10 de abril de 2011

De humanos e monstros

"Eu sou homem e nada do que é humano me é estranho."

Terêncio - dramaturgo e poeta romano.

Enquanto procurarmos entender o que aconteceu no colégio em Realengo como obra de um monstro nada poderemos fazer para ajudar as pessoas diretamente envolvidas, tampouco para contribuir com a busca das respostas que tanto procuramos. O monstro revolta, enoja e nos faz acreditar que somos diferentes e, portanto, não implicados no processo de subjetivação. O monstro nos dá uma pseudo-explicação, que não resolve e paralisa, porque contra monstros o que poderíamos fazer? Quando não conseguimos enxergar as diferenças, o monstro é o outro e temos medo do outro. A alteridade aparece como ameaça constante de perdermos nossa própria humanidade.

Proliferam na mídia os discursos do medo; especialistas são convocados a dar sua opinião técnica, repetindo jargões e insuflando preconceitos. Na redação de uma conhecida revista, uma das principais formadoras de opinião da classe média brasileira,  o rapaz de vinte e poucos anos que abriu fogo em uma escola na zona oeste do Rio de Janeiro, matando 12 crianças e ferindo outras tantas, passou de humano a monstro em questão de horas. É importante dizer isso: por mais abominável que seja a sua conduta – e não se trata de negar, em momento algum, o horror que essa tragédia representa para todos nós – NÃO FORAM SEUS ATOS QUE O TRANSFORMARAM EM MONSTRO, MAS O DISCURSO HEGEMÔNICO DA GRANDE IMPRENSA.

A mesma revista tenta nos convencer de que o “inimigo mora ao lado” e pergunta “como saber quando a loucura assassina emergirá das camadas profundas de anos de humilhação, solidão e frustração?'”, levando o leitor a crer que é possível realmente prever comportamentos! Mais uma vez: discursos do medo que nos dizem: cuidado com seu vizinho, cuidado com o outro.

Matar crianças com tiros certeiros na cabeça, sem qualquer motivação aparente, faz de Welington um assassino, um homem em surto. Um psicótico. Mas até isso pode ser leviano de nossa parte afirmar, já que ele não foi visto nem atendido por nenhum profissional de saúde mental, até onde se sabe.

Por outro lado, se compreendemos os atos mais bárbaros (como o nazismo, por exemplo) como atos humanos, temos maiores chances de nos implicarmos pois, ao responsabilizarmos o outro, estamos nos responsabilizando enquanto iguais, tão humanos quanto ele. Encarar a dimensão trágica do ser humano e entender que ele pode cometer barbaridades 'desumanas' não desresponsabiliza o sujeito e ainda nos dá a chance de fazer um debate mais produtivo sobre crimimologia na atualidade, sem cairmos numa visão positivista que reduz toda a complexidade dos processos de subjetivação a teorizações deterministas.

"Vocês não ficariam mais felizes se eu pudesse mostrar que todos os que perpetraram [o crime] eram loucos?" — pergunta o grande historiador do Holocausto, Raul Hilberg. Mas é exatamente isso que ele não pode mostrar. A verdade que ele de fato mostra não traz nenhum alívio, é improvável que deixe alguém feliz. Os criminosos foram pessoas educadas de sua época.” –Zygmunt Bauman. Modernidade e Holocausto.

Não é procurando a loucura de Welington ou acreditando na previsibilidade de comportamentos insanos que vamos achar as respostas para o problema da violência. Talvez esteja mais do que na hora de voltarmos a falar em desarmamento, em vez de ficarmos rodando feito tontos, atrás de respostas que individualizam a culpa. O problema é de todos nós.

sábado, 26 de março de 2011

Carta para o ministro

"A Lei da Ficha Limpa é uma ideia que não morre, e não se mata" – Ministro Ricardo Lewandowski, um dos cinco que votaram a favor da Lei da Ficha Limpa, na última sessão do STF.
Tem razão, ministro. Ninguém vai matar esse movimento popular. Nós vamos continuar lutando pra ter um Brasil mais justo. E, nesse novo país, os políticos serão pessoas "honestas, probas e éticas", tal como está escrito na nossa Constituição Federal, conhecida também como Constituição Cidadã.
No novo Brasil não vai ter mais lugar para Sarneys, Barbalhos, Malufs e assemelhados. O Brasil que queremos vai realmente poder ser chamado de país democrático, porque, por enquanto, esse arremedo de democracia que temos aqui não merece nem o título.
Mas vamos precisar de muita gente boa, que age e pensa em favor do bem comum; que respeita a vontade do povo, assim como o senhor, que votou sim pela Ficha Limpa. Pena que não deu... Ninguém vai matar no nosso peito o grito de protesto e, enquanto tivermos voz e força pra tentar mudar, jamais cruzaremos os braços. Como é mesmo aquela frase que ficou famosa num comercial da tevê? "Brasileiro não desiste nunca". Então.

Um abraço cordial,